Fisioterapia para Dor Patelofemoral - o que, realmente, funciona?

Síndrome da Dor Patelofemoral:

no destaque, a patela e a tróclea

(ranhura do fêmur por onde a patela desliza)




A intenção deste artigo é fazer uma revisão sobre as práticas clínicas fisioterapêuticas no tratamento da Síndrome Fêmoro-Patelar (ou Síndrome da Dor Patelofemoral, ou Dor Patelofemoral). Informamos que muitas práticas que podem ser benéficas podem ainda não terem sido avaliadas sob o rigor científico e que, portanto, embora o fisioterapeuta deva ter sempre uma atenção especial ao que vem sendo apresentado pelas investigações científicas, muitas vezes podem haver outros recursos úteis que ainda não foram investigados e que, dentro de um contexto de raciocínio clínico e embasamento científico, podem ser utilizados.

Vamos abordar intervenções como fortalecimento muscular, uso de palmilhas, aplicação de taping, alongamento, correção do movimento e eletroterapia.



Fortalecimento
MCMULLEN et al (1990) compararam os efeitos do fortalecimento estático (“quad sets” e “SLRs” – ou seja, extensão terminal em decúbito dorsal e levantamento (curto) da perna estendida)  e do isocinético com um grupo controle em indivíduos diagnosticados com condromalácia patelar. Observaram que os indivíduos que realizaram o fortalecimento obtiveram melhoras significativas em relação ao grupo controle, tanto funcionalmente quanto em relação ao ganho de força. Porém, não houve diferenças importantes entre os dois grupos de fortalecimento. BAKHTIARY & FATEMI (2008) compararam os exercícios de levantar a perna estendida (“Straight Leg Raises”) com semi-agachamentos unipodálicos, observando maior eficiência nos exercícios de semi-agachamento.

WITVROUW et al (2000) também utilizaram dois grupos para se verificar o tipo mais adequado de exercício em indivíduos com dor patelofemoral. Um deles utilizou somente exercícios em cadeia cinética aberta e o outro somente em cadeia cinética fechada. Em ambos houve melhora funcional e redução da dor, mas a melhora funcional foi levemente maior no grupo que realizou exercícios em cadeia cinética fechada. WITVROUW et al (2004) obtiveram melhoras funcionais em dois grupos de indivíduos com dor patelofemoral, um tendo realizado exercícios em cadeia cinética fechada e outro em aberta, relatando que essa melhora se manteve mesmo após 5 anos depois da intervenção, e o grupo que se exercitou em cadeia cinética aberta manifestou menos queixas de dor. É importante mencionar que nestes 2 estudos se fez uso de um conjunto de exercícios para cada grupo estudado, ou seja, um grupo utilizou um conjunto de exercícios em cadeia cinética aberta e o outro um conjunto de exercícios em cadeia cinética fechada.
                              
STIENE et al (1996) compararam dois grupos de indivíduos com dor patelofemoral, um que realizou treino de força em cadeia cinética fechada com outro que realizou extensão de joelho (cadeira extensora) num aparelho isocinético, observando melhora da força em ambos os grupos, mas um nível maior de melhora funcional naqueles que realizaram o treinamento em cadeia cinética fechada. HERRINGTON & AL-SHERHI (2007) observaram melhoras funcionais e diminuição da dor significativas e semelhantes entre grupos que realizaram exercícios em CCF (leg press) ou CCA (cadeira extensora), ambos claramente melhores à não realização de exercícios do grupo controle. FEHR et al (2006), comparando exercícios em cadeia cinética fechada (leg press de 0º a 50º, semiagachamento e isométricos) com exercícios em cadeia cinética aberta (cadeira extensora 90º a 50º + isométricos)  em indivíduos com dor patelofemoral, também observaram melhoras da funcionalidade e redução da dor em ambos os grupos, sendo esses benefícios mais evidentes naqueles que realizaram atividades em cadeia cinética fechada.

O fortalecimento muscular parece ser uma intervenção que, consistentemente, promove a melhora da função e da sintomatologia em pacientes com Síndrome da Dor Patelofemoral. Faltam estudos com grupo placebo, ainda assim, a colocação deste tipo de conduta no tratamento aparenta ser obrigatória.

Por outro lado, pouca diferença parece existir entre tratamentos que enfatizam o uso de exercícios em cadeia cinética aberta com os que usam a cadeia cinética fechada, embora isso talvez se deva, em parte, aos diferentes exercícios utilizados. De forma geral, parece que os exercícios em CCF produzem melhores resultados.



Leg Press - exemplo de exercício

de fortalecimento em CCF



Sobrecarga Patelofemoral nos Exercícios
STEINKAMP et al (1993) avaliaram, comparativamente, os exercícios de leg press (CCF) e os de cadeira extensora (CCA) em relação à sobrecarga patelofemoral isometricamente, nos ângulos de flexão de joelho de 0o, 30o, 60o e 90o. Encontraram uma sobrecarga aumentada maior para o leg press nos ângulos de 60o e 90o, enquanto para a cadeira extensora a sobrecarga aumentada foi encontrada nos ângulos de 0o e 30o. POWERS et al (2014) encontraram informações semelhantes. ESCAMILLA et al (1998) encontraram uma tendência à menor sobrecarga patelofemoral nos maiores graus de flexão nos exercícios em CCA, e à maior sobrecarga nos exercícios em CCF (leg press e agachamento) nesses mesmos graus. ESCAMILLA et al (2001), ESCAMILLA ET al (2008), ESCAMILLA ET al (2009) e ESCAMILLA et al (2009b) recomendam ângulos abertos (0o a 50o) em exercícios de CCF para minimizar a compressão patelofemoral. WALLACE ET al (2002) também afirmam que nos exercícios em CCF por eles estudados foi encontrada maior sobrecarga patelofemoral nos maiores ângulos de flexão dos joelhos.


A utilização de ângulos menores de flexão de joelho nos exercícios de CCF e de ângulos maiores em CCA parece ser consenso. Padrões exatos para a aplicação não são claros, embora uma recomendação consistente seja o uso de 0º a 50º na aplicação de exercícios em CCF (ESCAMILLA et al (2001), ESCAMILLA ET al (2008) e ESCAMILLA ET al (2009)).



Importância do Fortalecimento de Quadril
NAKAGAWA et al (2008) compararam um grupo de indivíduos com dor patelofemoral que realizou fortalecimento de quadril (abdutores e rotadores laterais) juntamente ao fortalecimento de quadríceps, com outro que realizou somente o fortalecimento de quadríceps, e observaram que somente o primeiro grupo obteve melhora na dor percebida. FUKUDA et al (2010) também observaram uma melhora mais importante da dor nos indivíduos que realizaram o fortalecimento de quadril (abdutores e rotadores laterais) associado ao fortalecimento de joelho em relação aos que realizaram somente fortalecimento de joelho. ISMAIL et al (2013) também observaram um maior alívio da dor ao se adicionar exercícios de fortalecimento de quadril a um programa de exercícios em cadeia cinética fechada.

FUKUDA et al (2012) compararam dois grupos de mulheres com dor patelofemoral que realizaram exercícios de fortalecimento e alongamento, sendo num deles somente adicionado fortalecimento de quadril (rotadores laterais, abdutores e extensores), e viram que o grupo que adicionou fortalecimento de quadril obteve melhores resultados em termos de função e redução da dor.

DOLAK et al (2011) utilizaram dois grupos de mulheres com dor patelofemoral, sendo que um recebeu exercícios de fortalecimento de joelho, e o outro, fortalecimento de quadril, ambos por 4 semanas, antes de iniciarem um trabalho de exercícios funcionais por outras 4 semanas. Observaram que o grupo que realizou exercícios de quadril obteve uma melhora da dor mais rápida, embora ambos os grupos tenham obtido melhoras da função e da dor.

KHAYAMBASHI et al (2012) compararam um grupo de mulheres com síndrome da dor patelofemoral que realizou exercícios de fortalecimento de quadril (abdutores e rotadores laterais) com outro que recebeu tratamento placebo. Foi obtida uma melhora significativa da dor e na força muscular apenas no grupo que realizou exercícios, sendo que essas melhoras permaneceram na re-avaliação após 6 meses do final do tratamento. O fortalecimento da musculatura de quadril teve sua importância ainda mais evidenciada no  estudo de KHAYAMBASHI ET al (2014), que compararam o fortalecimento dos músculos abdutores/rotadores laterais de quadril com o fortalecimento de quadríceps em mulheres e homens com Síndrome Patelofemoral, e observaram, melhores resultados no primeiro grupo.

O fortalecimento de músculos do quadril, em especial abdutores e rotadores laterais, tem demonstrado resultados bons no tratamento da Síndrome da Dor Patelofemoral. Seus benefícios parecem estar presentes seja no treinamento isolado da musculatura do quadril, seja potencializando os resultados do fortalecimento de joelho. Seu uso deve ser sempre considerado para os tratamentos da Síndrome da Dor Patelofemoral.



Outras Informações sobre Fortalecimento
Parece ser desnecessária a adução de quadris na realização do leg press, de acordo com SONG et al (2009), assim como realizar o exercício com rotação de quadris (BALCI et al - 2009). Em relação ao afundo, ESCAMILLA ET al (2008) recomendam sua realização com uma distância longa (ao invés de curta) entre os pés, e sem dar um passo.

Ou seja, faça o básico e não complique!



Treinamento do Vasto Medial
SYME et al (2009) compararam três grupos de indivíduos com dor patelofemoral, em seu estudo randomizado. O primeiro recebeu tratamento visando a ativação seletiva do músculo Vasto Medial Oblíquo, o segundo recebeu tratamento de fortalecimento geral do músculo Quadríceps e o terceiro grupo não recebeu tratamento. Os dois primeiros grupos obtiveram melhoras significativas e similares em relação à dor e a função quando comparados com o terceiro grupo.

COWAN et al (2002) usaram taping em pacientes com dor patelofemoral comparando-os com um grupo placebo, obtendo uma alteração dos padrões de ativação do vasto medial na atividade de subir e descer escadas (vasto medial se ativou antes do vasto lateral na fase excêntrica e ocorreu simultaneamente na fase concêntrica) e uma melhora nos sintomas. Não houve alterações no grupo placebo.

O treinamento do vasto medial, de diferentes formas, pode ser benéfico. Porém, ele em si não traz mais benefícios que o fortalecimento geral de quadríceps, mas isso não o descarta por completo. São poucos estudos comparativos, especialmente que façam uso de grupo placebo, para uma conclusão fundamentada.



Palmilhas

Efetividade das Palmilhas
SAXENA & HADDAD (2003) observaram melhora em indivíduos que fizeram tratamento com palmilhas individualizadas (semi-flexíveis). JOHNSTON & GROSS (2004) observaram melhora em indivíduos com pronação do pé que utilizaram palmilhas individualizadas. MANUERA & MAZOTERAS-PARDO (2011) também observaram melhoras em indivíduos com dor patelofemoral que se utilizaram de palmilhas sob encomenda, o mesmo sendo encontrado por BARTON et al (2011), BARTON et al (2011b) e MCPOIL et al (2011) com o uso de palmilhas pré-fabricadas. Infelizmente nenhum destes estudos utilizou grupo placebo ou outra intervenção para comparação.

ENG & PIERRYNOWSKI (1993) compararam dois grupos de mulheres com Dor Patelofemoral que realizaram exercícios, sendo que apenas um deles utilizou palmilhas. Todos os sujeitos tinham, de acordo com a avaliação dos pesquisadores, pronação excessiva. Como resultado, observaram que o uso de palmilhas trouxe benefícios em associação aos exercícios.

MILLS ET al (2012) compararm dois grupos de indivíduos com dor patelofemoral há mais de 5 anos, sendo usadas órteses pré-fabricadas apenas em um grupo (escolhidas de acordo com o conforto), enquanto o outro grupo não realizava qualquer intervenção. Foi observada uma melhora significativa no grupo que realizou a intervenção apenas.

COLLINS et al (2008) compararam, em seus estudos clínicos randomizados, a utilização de palmilhas pré-fabricadas com palmilhas planas, fisioterapia, ou fisioterapia com adição das palmilhas em indivíduos com dor patelofemoral. Encontraram melhoras das palmilhas pré-fabricadas em relação às palmilhas planas, mas não em relação à fisioterapia, nem em relação à fisioterapia associada ao uso das palmilhas.


Informação sobre os termos utilizados:
Individualizadas – adequada ao pé de cada indivíduo após avaliação.
Pré-fabricadas – compradas na loja, sem qualquer modificação ou adequação.
Customizadas – feitas com uma medida especificada - não são individualizadas.


Quem se beneficia do uso de palmilhas
Abaixo estão mais estudos (alguns já citados acima) que encontraram benefícios na utilização da palmilha, sendo que estes buscaram identificar o perfil daqueles que se beneficiaram com seu uso.

SUTLIVE et al (2004) concluíram que indivíduos com teste de queda do navicular de 3mm ou menos, antepé valgo de 2o ou mais, ou extensão do grande dedo do pé menor que 78o eram mais propensos a se beneficiar de uma intervenção com uso de palmilhas pré-fabricadas e orientações.

VICENZINO et al (2010) encontraram algumas variáveis, das quais 3 deveriam estar presentes para se obter uma importante melhora com o uso de palmilhas pré-fabricadas, sendo elas: mais de 25 anos de idade, menos de 1,65m de altura, pior dor na escala visual analógica menor que 53,25mm e uma diferença de largura de médio pé entre a situação sem descarga de peso para com descarga de peso maior que 10,96mm. MILLS et al (2012) encontraram como fator preditor de melhora no uso de palmilhas pré-fabricadas a diferença de largura do meio pé maior que 11,25mm comparando-se as situações sem e com descarga de peso.

BARTON et al (2011) fizeram uma investigação cinemática sobre o uso de palmilhas pré-fabricadas e alterações do movimento que seriam preditoras de melhora com seu uso em indivíduos com dor patelofemoral. A única variável relacionada com melhora foi um maior pico de eversão do retropé. BARTON et al (2011b) concluíram que os benefícios do uso de palmilhas pré-fabricadas estão ligados a déficits de controle da pronação do calçado dos indivíduos e a pés mais pronados. BARTON et al (2011c) afirmam que para maior probabilidade de sucesso com as palmilhas pré-fabricadas 3 dos 4 seguintes itens deveriam estar presentes: valor no teste de propriedades de controle de movimento do calçado menor que 5 (BARTON et al (2009)), dor usual menor que 22mm na escala visual analógica, ADM de dorsiflexão do tornozelo (com joelho fletido) menor que 41º e redução da dor ao realizar o agachamento unipodálico com a palmilha.

O uso de palmilhas demonstra ser um recurso útil no tratamento da Síndrome Fêmoro-Patelar. Embora não tenha havido consenso nos artigos analisados, seu uso parece beneficiar, em especial, aqueles com tendência a maior pronação do pé. Devido à variedade dos tipos de palmilhas, informações claras sobre até que ponto é necessária uma individualização da palmilha, ou quais tipos de palmilhas pré-fabricadas são mais úteis ainda não estão presentes.



Taping
KOWALL et al (1996) compararam dois grupos de indivíduos que se submeteram a um tratamento para dor patelofemoral envolvendo fisioterapia, sendo que em somente um deles foi adicionado o uso de taping. Como resultado não encontraram diferenças entre os dois grupos, sugerindo que o uso do taping não trouxe benefícios. CLARK ET al (2000) não observaram benefício do uso de taping num estudo randomizado, no qual ele foi associado ao exercício.  WHITTINGHAM et al (2004), por outro lado, encontraram benefícios na aplicação do taping associada a exercícios comparado com o uso de exercícios sem taping. MASON et al (2011) mostraram que o taping potencializa os resultados da aplicação de exercícios na função e na dor.

WILSON et al (2003) comparam 3 direções de aplicação de taping (medial, neutra e lateral), observando que todas elas produziram uma redução imediata da dor, principalmente na direção lateral e neutra.

COWAN et al (2002) comparam dois grupos de indivíduos com dor patelofemoral, sendo um deles placebo. Somente o grupo que recebeu aplicação de taping obteve melhoras dos sintomas.

LESHER et al (2006) buscaram desenvolver uma regra de predição clínica para a aplicação de taping com glide (direção) medial, encontrando uma tíbia vara de 5º ou mais, ou um teste de “tilt” patelar positivo (elevação da borda lateral da patela acima da horizontal – WATSON et al – (2001)) como preditores de uma melhora significativa com o uso do taping. LAN ET al (2010) também procuraram identificar preditores de melhora no uso de taping, encontrando maior benefício em indivíduos com menor índice de massa corporal, menor ângulo Q e menor ângulo patelofemoral.

AKBAS et al (2011) compararam dois grupos que realizaram treino de força e exercícios de alongamento, sendo adicionado a somente um deles a aplicação de Kinesio-Taping, não sendo observadas diferenças funcionais ou de dor entre ambos ou grupos após o tratamento. KURU et al (2012) encontraram benefícios semelhantes na aplicação de Kinesio-Taping e na Eletroestimulação em pacientes com dor patelofemoral.

CAMPOLO et al (2013) encontraram benefícios no uso do Taping McConnel e Kinesio, para realização da subida de escadas. Comparado com a ausência de fita adesiva, ambos os métodos promoveram a diminuição da dor durante a atividade.

O uso de taping parece sim ser benéfico para indivíduos com Dor Patelofemoral. Evidentemente, nem todos poderão obter resultados, mas ainda assim é um tratamento que pode ser tentado. Até o momento, seus benefícios quando em associação ao exercício são incertos. O Kinesio-Taping, por sua vez, carece de estudos sendo que, por enquanto, não parece trazer mais benefícios que outras condutas isoladas quando associado a estas. Por outro lado, as formas de aplicação do Taping podem ser variadas e ser necessária uma individualização para sua mior eficácia.



Alongamento
PEELER & ANDERSON (2007) observou os resultados da aplicação de exercícios de alongamento do quadríceps, concluindo que, embora tivesse ajudado a reduzir a dor de pacientes com dor patelofemoral, não foi observada correlação entre elasticidade de quadríceps e a intensidade da dor. MOYANO et al (2013) concluíram que alongamento usando-se a Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva combinada com exercícios aeróbios foi obteve melhores resultados que um programa de alongamentos apenas, sendo que ambos promoveram melhoras em relação ao grupo controle.

MASON et al (2011) compararam exercícios de fortalecimento, alongamento e aplicação de taping, isoladamente ou combinando todas as três intervenções. Isoladamente, os exercícios de fortalecimento e alongamento obtiveram melhora superior ao taping, mas quando todos foram usados em conjunto a melhora foi maior do que o uso isolado.

O alongamento pode ser utilizado pois parece trazer benefícios, mas ainda são poucos estudos.



Massagem
A massagem de compressão isquêmica apresentou bons resultados num estudo de ótima qualidade metodológica, desenvolvido por HAINS & HAINS (2010). Comparou-se a massagem compressiva nas regiões peri (ao redor) e retro (atrás) da patela, com outro grupo que recebeu massagem compressiva em músculos do quadril, sendo que o grupo que recebeu tratamento na patela apresentou melhores resultados a curto prazo e após 30 dias da aplicação.



Correção do Movimento
NOEHREN et al (2011) utilizaram feeback em tempo real para corrigir o movimento da corrida de indivíduos com dor patelofemoral. De fato, foi fornecido feedback em relação à adução do quadril na fase de apoio da marcha, enquanto os indivíduos corriam na esteira. Como resultado encontraram melhoras na realização do movimento (menor adução e rotação medial de quadril, menor inclinação da pelve e menor impacto) associada a uma redução da dor e melhora da função. Na reavaliação após 1 mês do fim do treinamento a melhora estava mantida.

WILLY et al (2012) utilizaram re-treinamento de marcha com espelho e feedback verbal em mulheres corredoras com dor patelofemoral e alterações mecânicas no quadril. Observaram menor adução de quadril, inclinação da pelve e momento de abdução do quadril. As melhoras de dor e função foram mantidas na reavaliação após 3 meses.

SALSICH et al (2012) estudaram 20 mulheres com dor patelofemoral que apresentavam joelho valgo dinâmico, e avaliaram o nível de dor e a mecânica do movimento de agachamento unipodálico realizado em três condições diferentes: normal, movimento exagerado e movimento corrigido. Como resultado, observaram que na condição de movimento exagerado comparado com a condição normal havia maior rotação medial de quadril, rotação lateral de joelho e dor, e na comparação entre movimento corrigido e normal havia menor adução de quadril e rotação lateral de joelho, sem diminuição da dor. Observaram também que havia correlação da dor com a rotação lateral de joelho nas condições normal e movimento exagerado, e com a rotação medial de quadril e abdução de joelho na condição movimento corrigido.

A correção do movimento em si parece trazer benefícios e estar correlacionada com a diminuição da dor. Porém, os estudos que buscaram realizá-la ao se utilizaram de grupos placebo para comparação e, dessa forma, fica difícil afirmar que os resultados não tenham ocorrido devido ao efeito do placebo. Mais estudos se fazem necessários.



Eletroestimulação
CALLAGHAM et al (2001) não encontraram diferenças entre dois tipos de eletroestimulação da musculatura em pacientes com dor patelofemoral, sendo que ambos produziram melhoras significativas na dor e na força muscular. CALLAGHAM & OLDHAM (2004) também compararam duas formas de eletroestimulação sem encontrar diferenças importantes entre os resultados, obtendo melhoras em níveis de força, redução da dor, aumento do trofismo muscular e em avaliações funcionais.

BILY et al (2008) buscaram verificar se a adição de eletroestimulação a um programa de fisioterapia seria benéfico, mas não observaram diferenças ao se comparar o grupo que realizou apenas fisioterapia (sem eletroestimulação) com o grupo que realizou fisioterapia adicionada de eletroestimulação.

A eletroestimulação é o tipo de intervenção que pode ser feita com diversos parâmetros e os resultados clínicos podem depender da escolha apropriada destes. Até o momento, seu uso não parece ser necessário quando em associação a um tratamento fisioterapêutico combinado. 



Intervenções Combinadas
CROSSLEY et al (2002) aplicaram fisioterapia (fortalecimento de quadris, biofeedback, alongamento, taping, mobilização da patela) em um grupo de indivíduos com dor patelofemoral comparando com um grupo placebo. Obtiveram uma melhora da dor significativa no grupo que realizou fisioterapia apenas.

CROSSLEY et al (2005) compararam um grupo de indivíduos recebendo fisioterapia (fortalecimento de quadris, biofeedback, alongamento, taping, mobilização da patela) com placebo, obtendo melhoras significativas de dor e de função nele. Destacaram a maior flexão de joelho obtida na fase de apoio, mais compatível com o que seria a normalidade.

MASON et al (2011) também encontraram resultados positivos com a combinação de intervenções. De fato, encontraram uma melhora mais significativa de seus pacientes no grupo que foi tratado com uma combinação de fortalecimento, alongamento e taping, do que em indivíduos tratados com qualquer uma dessas condutas isoladas.

Outros estudos já mencionados que associaram tratamentos e obtiveram bons resultados foram os de ENG & PIERRYNOWSKI (1993) (exercícios e palmilhas) e WHITTINGHAM et al (2004) (exercícios e taping). Por outro lado COLLINS et al (2008) (fisioterapia e palmilhas), KOWALL et al (1996) (fisioterapia – alongamento e fortalecimento - e taping), CLARK et al (2000) (fisioterapia – alongamento e fortalecimento – e taping), BILY et al (2008) (fisioterapia e eletroestimulação) e AKBAS et al (2011) (fisioterapia – alongamento e fortalecimento -  e kinesio-taping) não obtiveram resultados com a adição de procedimentos a um tratamento.

Basicamente, os estudos mostram que o uso associado de intervenções beneficia os pacientes com Síndrome da Dor Patelofemoral, mas não é claro se isso ocorre, em si, devido a associação. Certos estudos evidenciam melhoras com essa associação, mas outros não. Considerando-se a variedade de condutas que podem ser combinadas, e a variedade de formas como isso pode ser feito, regras para predizer em quais situações, como e quando isso pode ser feito de forma a se adicionar benefícios, não existem ainda.



Preditores de Melhora após Tratamento Conservador
PIVA et al (2009) encontraram que a melhoria de fatores psicológicos são o principal preditor de melhoras após uma intervenção conservadora (exercícios de fortalecimento, alongamento e taping) em pacientes com dor patelofemoral.

PATTYN et al (2012) identificaram que, após tratamento fisioterapêutico (que incluiu fortalecimento, exercícios de quilíbrio, alongamentos, treinamento de vasto medial, mobilização da patela e outros), os pacientes que obtiveram mais benefícios eram aqueles que, na avaliação antes do tratamento, tinham um tamanho maior do quadríceps, menor força excêntrica de extensão de joelho e uma freqüência menor de dor. Os autores sugerem que otimizar o uso da musculatura (melhorando a força excêntrica) é mais simples que, no período (de 7 semanas) do estudo, aumentar o trofismo muscular, e por isso indivíduos com menor força excêntrica tendiam a ter pior prognóstico. NATRI et al (1998), cujo tratamento incluiu descanso, medicações e exercícios de fortalecimento isométrico de quadríceps, identificaram uma restauração da força do quadríceps, ausência de dor ou crepitação nos testes clínicos pré-tratamento, menor peso, menor idade e ausência de sintomas bilaterais no acompanhamento como preditores de melhora no tratamento conservador da dor patelofemoral em longo prazo.

BLOND & HANSEN (1998) correlacionaram que uma hipermobilidade patelar em atletas com dor patelofemoral que foram orientados a realizar re-treinamento de vasto medial era relacionada a um pior prognóstico.

COLLINS et al (2010) identificaram que pacientes com mais limitações funcionais (valores baixos na avaliação Kujala (KUJALA et al 1993)) e sintomas mais duradouros apresentavam piores prognósticos. Utilizaram como base para a análise os dados de outro estudo (COLLINS et al (2008)) cujos participantes foram divididos em grupos com intervenções diversas. COLLINS et al (2013) reafirmam maior duração de sintomas e menor capacidade funcional como indicativos de piores prognósticos.

A restauração da força, e o potencial para conseguir isso, parece ser um fator importante para se conseguir e se prever a melhoria. Outros fatores incluem a ausência de sintomas em testes específicos, menor duração dos sintomas, pouco peso (menor sobrecarga no joelho), menor idade, menos alterações funcionais e melhoria nos fatores psicológicos parecem ser todos fatores que indicam aqueles indivíduos com Dor Patelofemoral que vão ter melhores prognósticos com um programa de tratamento.



Conclusão
As pesquisas relativas à tratamentos da Síndrome da Dor Patelofemoral vêm avançando nos últimos anos, inclusive com a identificação, ainda preliminar, de fatores preditores de melhora com certas condutas de tratamento. O que se tem até o momento indica que o uso do fortalecimento de músculos de quadril e joelho, o uso de palmilhas, cuja eficácia parece estar ligada ao controle da pronação do pé, e a aplicação de taping parecem ser as condutas com melhores resultados clínicos. Porém, os benefícios dessas duas últimas condutas mencionadas quando associadas a intervenções que incluam o fortalecimento ainda é incerto.






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